
"Quem tem medo de Virginia Woolf?" é um clássico indiscutível do cinema americano. Um filme que retrata um casal envelhecido que, com a ajuda do álcool, manipula um casal mais novo para infligir o máximo de dor emocional (e por vezes física) possível a todos os que os rodeiam e um ao outro. Nunca antes um casamento e as suas falhas foram tão bem dissecados. Da primeira à última cena somos confrontados com duas pessoas que, apesar de se amarem e dependerem uma da outra (às vezes sem disso se aperceberem), canalizam todos os seus ressentimentos e mágoas em palavras que provocam em ambos as mais profundas feridas. George e Martha levam-se à exaustão emocial mas nunca se conseguem afastar um do outro. Com a excelente realização de Mike Nichols (na sua estreia como realizador de cinema), as assombrosas interpretações e o genial argumento de Ernest Lehman, com todas as palavras carregadas de malícia, sarcasmo e amargura, o próprio espectador sente por vezes essa exaustão emocional, apesar de nunca ser capaz de tirar os olhos do ecrã. Esta é sem dúvida a melhor interpretação da carreira de Elizabeth Taylor, num dos melhores desempenhos na história do cinema. A sua transformação é notável e toda a complexidade da personagem é representada na perfeição, do sadismo à ternura, da condescendência opressiva à extenuante vulnerabilidade. Richard Burton é magnífico como o envelhecido professor com uma carreira falhada, cuja brandura inicial depressa progride para uma raiva de uma volatilidade impressionante. Também os dois "secundários", George Segal e Sandy Dennis, têm actuações notáveis. Um filme corajoso e ousado que venceu 5 Óscares da Academia e espantou a sua audiência que até aí estava habituada a protótipos de casamentos quase perfeitos em que os obstáculos são magicamente ultrapassados no pouco tempo que o filme retrata, quase sempre com a idílica ideia final "Viveram felizes para sempre".
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