The Fisher King

Um conto recheado de fantasia, passado nas ruas de Nova Iorque. Jack, um arrogante locutor de rádio, após cometer um terrível erro, tenta redimir-se anos depois ao ajudar Parry, uma das vítimas dessa fatalidade. A realização de Terry Gilliam é excepcional. Fiel ao seu estilo surreal, consegue aqui criar uma perfeita combinação de imaginação e realidade, humor e tragédia. É ainda abordada a vida dos renegados da sociedade, sem-abrigos a viveram sem destino, assombrados pelo passado e a tentarem sobreviver num mundo que procura ignorar a sua existência. Robin Williams, como um desses homens, tem neste filme talvez a melhor interpretação da sua carreira. Um papel que lhe assenta na perfeição, com aquela inconfundivel capacidade humorística a vir ao de cima numa história comovente. Jeff Bridges cumpre como sempre com uma naturalidade impressionante. O argumento é perfeito, referindo-se a temas do passado de Gilliam (o Santo Graal) e dando riqueza e variedade não só às duas personagens principais mas também a secundários como Mercedes Ruehl, Amanda Plummer e o caricato Michael Jeter. Esta é talvez a obra mais mainstream de Terry Gilliam. Não deixa, no entanto, de ser um filme inesquecível. Recomendo.

The Edukators : "your days of plenty are numbered"

Um filme inspirador e de profunda reflexão sobre dois jovens berlinenses que praticam uma forma de activismo muito peculiar. Uma farpa nos príncipios do capitalismo. Escrito e realizado por Hans Weingartner. Nomeado para a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2004. Recomendo especialmente a todas as pessoas ainda na sua juventude.

Winter's Bone


Nas Montanhas Ozark em Missouri, uma rapariga procura o seu pai para garantir a sua sobrevivência e a dos seus irmãos mais novos. Uma premissa já muitas vezes vista mas que tem neste filme um desenvolvimento diferente, fruto da promissora realização de Debra Granik, que conseguiu mergulhar na cultura da região e com isso dar uma maior autenticidade à história. Um conto de preserverança e coragem, por vezes desolador mas com uma réstia de esperança, abrilhantado pela auspiciosa interpretação de Jennifer Lawrence. Uma agradável surpresa que apenas descobri quando surgiram as primeiras críticas do último festival de Sundance. Nomeado este ano para quatro Óscares, incluindo Melhor Filme e Melhor Actriz.

The Sopranos

Uma história que se tornou numa das mais celebradas e aclamadas séries nos E.U.A. Mais uma das poucas provas de que a televisão no século XXI não é toda ela desprovida de conteúdo ou inteligência. Esta inovadora série retrata a vida de um líder da máfia de New Jersey. Fantásticos enredos, personagens diversas mas sempre autênticas, desenvolvimentos impressionantes mas sempre credíveis, acompanhados com escolhas musicais perfeitas e um argumento soberbo, formam uma das mais épicas sagas americanas sobre o crime organizado. James Gandolfini ficará para sempre imortalizado pelo seu papel como Tony Soprano, umas das mais carismáticas e intrigantes personagens que eu já tive o privilégio de acompanhar. É notável como a sua tendência ameaçadora e temperamental no papel de um criminoso contrasta com a sua tendência afável e protectora como pai e amigo. O seu casamento com Carmela, pela sua natureza complexa e problemática, é um dos elementos mais interessantes. Além de Gandolfini no papel principal e apesar de todo o elenco ser fantástico (são dezenas as personagens e não sou capaz de encontrar uma interpretação falhada), queria destacar Edie Falco (Carmela Soprano), Lorraine Bracco (Dr. Jennifer Melfi) e sobretudo Nancy Marchand (Livia Soprano) numa extraordinária interpretação como uma das mais detestáveis mães que o cinema ou a televisão já apresentaram. No entanto, apesar destes fantásticos desempenhos, o maior mérito terá de ir inevitavelmente para os escritores (David Chase, o criador, é um deles) que, ao longo de tantas temporadas conseguiram manter o altíssimo nível de qualidade e originalidade. Uma série simplesmente brilhante que recomendo com grande entusiasmo.

Once Upon a Time in The West

Um belíssimo e glorioso western do lendário Sergio Leone. História épica de um enigmático homem que se une a um fora da lei para proteger uma viúva de um assassíno sem escrúpulos. Mais uma brilhante composição da autoria de Ennio Morricone. Inesquecível o confronto final a fazer lembrar o mítico embate entre Blondie, Tuco e Angel Eyes em O Bom, o Mau e o Vilão. É impossível menosprezar este género de filme depois de se ver as obras-primas de Leone.

Waking Life Official Trailer


Um homem navega por um sonho encontrando variadíssimas pessoas e discutindo os significados e os desígnios do Universo. Uma experiência única. Uma fusão mágica e invulgar de Animação e Filosofia. Realização de Richard Linklater.

Biutiful: uma tragédia moderna nas ruas de Barcelona

Trágico. Profundo. Arrebatador. Real. Fui finalmente ver este filme e fiquei surpreendido. Não era o que esperava desde que tinha visto o trailer em Setembro (tenho de parar de ver trailers meses antes do filme estrear, só me faz mal...) mas o que vi foi uma obra-prima de Alejandro González Iñarritu. Biutiful conta a história de Uxbal (Bardem), um homem que tenta sobreviver e sustentar os seus filhos numa zona de Barcelona onde a pobreza e a fuga à Lei fazem parte do dia-a-dia. Ao pressentir a morte irá tentar lutar contra o seu destino, numa extraordinária busca pela redenção. Não quero estragar o filme portanto não vou entrar em grandes descrições. Afirmo apenas que é um dos melhores dramas que eu já vi na minha vida, recheado de simbologias e momentos de uma carga emocional impressionante. A cinematografia de Rodrigo Pietro é de uma beleza única, retratando Barcelona de forma realista e mostrando uma face da cidade que muito poucos conhecerão. A música, da responsabilidade de Gustavo Santaolalla, é perfeita, acompanhando a intensidade de cada cena. No entanto, o maior aplauso vai para a majestosa interpretação de Javier Bardem, com uma total entrega a um papel extremamente difícil. O herói improvável, carregado de raiva, levado ao desespero mas sem nunca desistir da garantia de uma vida melhor para os seus filhos. Só com base neste grande papel, mais os filmes No Country For Old Men e Mar Adentro, já posso facilmente considerar Bardem um dos melhores actores da actualidade. Parabéns a Iñarritu pela sua criação e realização, por transformar o que chamamos feio no séc. XXI em algo de uma beleza épica quase indiscritível.

Interiors

Uma homenagem de Woody Allen a Ingmar Bergman. Um olhar sombrio sobre as vidas de três irmãs após a separaração dos seus pais. Nem todo o estilo de Woody Allen se perde nesta fuga às suas habituais criações (o incontornável Jazz, por exemplo, manteve-se), mas o génio cómico que exibiu ao longo da sua carreira ficou sem dúvida fora deste filme. Em momentos como os close-ups ou os intensos confrontos emocionais entre as personagens quase acreditei que era o lendário realizador sueco o homem por trás da câmara. Ressentimento, ódio e desespero eclodem em cada cena com um realismo e intensidade por vezes perturbador. A qualidade do argumento, também da autoria de Woody Allen, confere uma maior credibilidade à situação dramática vivida por esta família. A ausência de som em muitos momentos parece transportar-nos para a própria cena, como se fôssemos um familiar distante, impotente para evitar o descontrolo observado. Relativamente aos actores, destaque obrigatório para Geraldine Page (uma das melhores actrizes americanas do séc. XX) no papel de uma mulher e mãe desequilibrada, que não é capaz de suportar a ideia de viver longe do seu marido de tantos anos. Um merecido tributo a Ingmar Bergman e um honroso trabalho de Woody Allen. Nem todos os fãs destes dois cineastas gostarão deste drama. Eu gostei mas não é de longe o meu filme preferido do realizador nova-iorquino.

Glengarry Glen Ross - A Story For Everyone Who Works For A Living

Um dia passado numa agência imobiliária norte-americana onde quatro trabalhadores fazem tudo o que são capazes para não perder o seu emprego. Uma análise ao capitalismo desenfreado e à busca pelo sucesso a qualquer custo. Um elendo de luxo acrescenta qualidade a um filme que já conta com um excelente argumento de David Mamet. Jack Lemmon é impressionante num dos últimos grandes papeis da sua memorável carreira, Al Pacino é o que já se espera dos seus lendários desempenhos no séc. XX e juntamente com Alan Arkin, Ed Harris, Alec Baldwin e o brilhante Kevin Spacey formam um conjunto inesquecível de interpretações. Um filme importante e que devia ser visto por todos os que têm uma promoção e um novo carro como objectivos de vida.