
Um clássico do cinema americano. Uma das primeiras e melhores demonstrações da obessão por violência na sociedade americana. Bonnie and Clyde são imortalizados por Faye Dunaway e Warren Beatty num filme intencionalmente excessivo na sua brutalidade mas que nunca perde o seu fio condutor. Incrível a forma como, após todos os crimes testemunhados pelo espectador, este não consegue deixar de simpatizar por vezes com os seus perpetradores. Admito que dei por mim a lamentar o destino destas personagens em certos momentos, o que denota a forma inteligente como a história é realizada. A melhor interpretação que vi até hoje de Beatty, aqui no papel de um impotente rapaz do campo que descarrega a sua frustração sexual através de uma pistola, mas que raramente ou nunca é odiado pela audiência devido ao seu aspecto benigno e ao seu sorriso pateta. Dunaway é perfeita como a beleza sulista que despreza a vida que leva e vê em Clyde Barrow uma oportunidade de fugir de tudo o que a rodeia e de desfrutar com imenso prazer de qualquer momento de adrenalina em que possui uma arma nas mãos. Mesmo após perceber que não terá o seu desejo sexual satisfeito por este homem, ela não é capaz de abandonar a única pessoa que alguma vez a compreendeu e a fez sentir verdadeiramente importante e, acima de tudo, viva. Esta obra permanece na História da sétima arte, nos Estados Unidos, como um dos maiores triunfos na manipulação da audiência. Muito do mérito tem de e deve ser atribuído à realização com enorme mestria de Arthur Penn, cineasta recentemente falecido. Este é, sem dúvida, o maior feito da sua carreira.
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