Caché

Caché é uma criação de Michael Haneke. Um filme obscuro, ousado e perturbador. Tinha já várias vezes lido sobre o menosprezo de Haneke relativamente ao cinema mainstream, às soluções superficiais para problemas complexos tantas vezes apresentadas pela sétima arte e às estruturas e ideias pré-concebidas. Com este realizador não se pode esperar obter qualquer resposta concreta. Tudo depende da nossa subjectividade e muitas das nossas conclusões poderão revelar mais sobre nós do que sobre a história que pudemos observar. Esta obra retrata a vida de um casal atormentado por uma pessoa sem identidade através de uma série de cassetes colocadas à porta de sua casa. Um dos maiores destaques vai logo de início para a forma estática como a câmara se comporta. Aliás a câmara parece neste filme ter o papel de personagem e uma personagem de extrema importância. O próprio espectador poderá por vezes sentir-se o perseguidor ou a vítima, tudo pela forma como Haneke realiza. A introdução de tantas questões sem qualquer resposta confunde o espectador que depois é chocado quando menos espera. Para além do efeito de confusão, os vários temas polítcos e sociais abordados no filme oferecem uma maior liberdade à interpretação de cada um. Uma das maiores forças deste filme é, no entanto, o seu elenco. Daniel Auteuil e Juliette Binoche formam o casal de intelectuais de classe média que vê a sua estabilidade perturbada pelo aparecimento de desenhos sinistros ou vídeos incómodos. Auteuil é perfeito como o marido controlado e educado que sofre silenciosamente. A sempre deslumbrante Binoche consegue nos seus momentos, com uma naturalidade notável, dar uma carga emocional ao filme. Há muito que admiro esta actriz pelo seu enorme talento e beleza. Aplaudo muitas das suas escolhas profissionais e considero-a uma das melhores actrizes da última década. Em relação aos secundários, Maurice Benichou é inesquecível no seu pequeno mas vital papel. Lester Makedonsky e Walid Afkir têm também óptimos desempenhos apesar da sua juventude. Acho que Haneke sacrificou algumas coisas, como a narrativa, para obter o efeito desejado, mas gostei e achai o filme extremamente interessante. Não é nada a que eu esteja habituado por isso foi uma agradável novidade. Recomendo mas aviso que muitos não gostarão.











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