El ángel exterminador

Para muitos um dos melhores filmes do realizador Luis Buñuel. Um conjunto de amigos burgueses, após um requintado jantar, encontra-se subitamente impedido, por uma inexplicável força, de se ir embora. Uma fascinante metáfora da condição humana com muitas implicações religiosas e uma hilariante sátira social. Apesar do filme ser de 1962, há grandes semelhanças a nível de imagem, com um filme dos anos 20, o que na minha opinião contribui bastante para a atmosfera surrealista do filme. Uma obra-prima que deve ser vista e revista vezes sem conta. Não esperem compreender com a maior das certezas tudo o que observam. Se tal acontecesse este filme não seria tão especial.

Copie Conforme - Certified Copy

Um escritor inglês (William Shimell) conhece na Toscânia uma mulher francesa (Juliette Binoche) que o leva a Lucignano. É nesta vila que, após uma longa conversa sobre o que é de facto a originalidade e o valor que uma cópia pode ou não ter, a relação entre os protagonistas se torna mais complexa. Binoche é deslumbrante como sempre e representa na perfeição o turbilhão de emoções que verificamos na sua personagem. Pelo seu desempenho venceu o prémio de Melhor Actriz no Festival de Cannes. Este foi o primeiro filme que vi do realizador Abbas Kiarostami. Gostei muito.

Le Concert

Trinta anos após ter sido despedido da orquestra Bolshoi por contratar músicos judeus, o maestro Andrei Simoniovich Filipov, ao saber acidentalmente de um concerto em Paris, tenta reunir os seus antigos músicos e, com a ajuda da talentosa violinista Anne-Marie Jacquet, tocar nesse concerto no lugar da actual orquestra Bolshoi. O realizador Radu Mihaileanu consegue encontrar a combinação perfeita de comédia, drama e melancolia. Graças ao elenco e à música, o filme nunca perde vivacidade e as personagens nunca deixam de ser credíveis, apesar da forma algo caricatural como são caracterizadas. Recomendo em especial, mas não só, a quem goste de música clássica.

Barton Fink (1991) - Original Theatrical Trailer


Uma obra-prima dos irmãos Coen. A história de um escritor nova-iorquino que, ao chegar a Hollywood, se depara com inesperadas dificuldades. Joel e Ethan Coen criam uma brilhante analogia às suas carreira através da personagem Barton Fink. Esta é também uma sátira perfeita ao funcionamento dos grandes estúdios de cinema norte-americanos e à arrogância de muitos escritores que dizem querer apenas narrar histórias de gente comum. Um filme recheado de simbologismos e marcado por uma atmosfera surrealista que eu nunca antes tinha visto, com o mérito a recair não só na genial dupla de realizadores, mas também na cinematografia de Roger Deakins e no desempenho de todo o elenco, com o obrigatório destaque para John Turturro, um grande actor que devia ter mais oportunidades de o mostrar.

Bullets Over Broadway

O dramaturgo David Shayne tenta lidar com as excentricidades de cada um dos seus actores para conseguir completar a sua obra, chegando ao ponto de dar um papel à amante de um mafioso para assegurar a produção da peça. A maior supresa chega quando o guarda-costas dessa mulher começa a revelar o dramaturgo que há em si. Uma fantástica comédia de Woody Allen sobre os sacrifícios feitos em nome da arte. Uma mistura perfeita e surpreendente da Máfia com o Teatro. Allen não se limita a criar meras caricaturas. Graças a mais um dos seus brilhantes argumentos, cada personagem tem os seus desejos, caprichos, maneirismos e peculiaridades. A outra grande força que permite isto é sem dúvida o elenco, um dos melhores que eu já vi num filme deste realizador. Quando se associa a uma história hilariante John Cusack, Dianne Wiest, Jennifer Tilly, Chazz Palminteri, Mary-Louise Parker, Jack Warden, Joe Viterelli, Rob Reiner, Tracey Ullman e Jim Broadbent, o resultado dificilmente ficará abaixo das expectativas. Para mim, o maior destaque vai mesmo para Dianne Wiest, no papel da manipuladora Helen Sinclair, a lenda em decadência que vê o seu estatuto de estrela da Broadway ganhar uma nova vida. Não é, para mim, o melhor filme de Woody Allen, mas não deixa de ser uma comédia memorável.

Der Himmel über Berlin - Wings of Desire

Damiel é um anjo farto de ser uma mera testemunha das vidas humanas. Quando se apaixona por uma mortal começa a desejar tornar-se humano. Um filme sobre o poético contraste entre o efémero e o eterno. O facto de ser a preto e branco serve para enfatizar ainda mais a visão fria, desprovida mesmo de qualquer emoção ou sensação, com que os anjos se habituaram a olhar os humanos na cidade de Berlim. Realizado por Wim Wenders, com as participações inesqueciveis de Bruno Ganz (actor suiço que se evidenciou mais ainda com o filme Der Untergang de 2004, no qual tem um papel assombroso como Adolf Hitler) e o recentemente falecido Peter Falk. No fim, Wenders dedica este filme a todos os anjos, mas em especial a Yasujiro, François e Andrej, cineastas que sempre representaram uma inspiração na sua já longa carreira.

Scenes from a Marriage

Uma sábia e talvez assustadora dissecação de um casamento, aparentemente bem sucedido, que dura há já uma década. Marianne e Johan sentem-se felizes e afortunados pela vida que levam, mas após muitos anos, a visão que ambos têm deste matrimónio começará a desmoronar-se. Ingmar Bergman cria um dos retratos mais honestos, que eu já vi no cinema, sobre a vida de um casal. O argumento, também da sua autoria, é perfeito e Liv Ullman e Erland Josephson têm interpretações extraordinárias. O amor, ódio, vergonha, desespero e raiva que sentem, espelhados nas suas caras, são captados na perfeição pelo lendário realizador sueco e com o enorme contributo da cinematografia de Sven Nykvist . Uma das cenas mais inesquecíveis é a conversa de Marianne com uma mulher mais velha que tenciona pedir o divórcio para pôr fim a um casamento vazio. A sua expressão facial quando vislumbra, naquela mulher, o seu futuro é comovente. Um filme, de enorme perspicácia, sobre comunicação (ou falta dela) entre duas pessoas que se amam, mesmo que não o saibam.

Ordinary People - Trailer


Este drama conta a história de uma família abastada que tenta viver marcada pela morte do filho mais velho, que irá condicionar por completo as relações entre a mãe amargurada, que usa as trivialidades do dia-a-dia para fugir à sua dor, o pai bem-intencionado que se revela incapaz para resolver a situação e o irmão mais novo que tem de viver com a culpa de ter sobrevivido. Robert Redford estreou-se aqui como realizador e fez talvez o melhor trabalho da sua carreira. Uma crítica à forma como muitos nas mais altas classes sociais americanas encaram a realidade, mas acima de tudo um filme sobre perda e a forma como essa perda altera irremediávelmente a dinâmica de uma família. Vencedor de 4 Óscares da Academia, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador.

True Grit - Punishment comes one way or another

Uma jovem de 14 anos procura vingar a morte do seu pai ao contratar um U.S. Marshal para encontrar o assassino. A adaptação da obra de Charles Portis pelos irmãos Coen parece ser, de acordo com a crítica, mais fiel que a versão de 1969, com John Wayne como protagonista. Não é, sem dúvida, o filme que mais adorei desta dupla carismática de irmãos que parecem pensar numa sintonia perfeita em cada uma das suas criações. Desta vez, por respeito à obra, os irmãos foram forçados a colocar um freio nas suas mentes habituadas a produzir o diálogo ou a cena mais original e imprevisível (quem vir o filme The Big Lebowski jamais o esquecerá). No entanto, não deixo de considerar este um dos filmes do ano e mais uma prova da prolificidade destes realizadores. A cinematografia da autoria de Roger Deakins é talvez a maior qualidade deste filme. As paisagens áridas, dignas de um verdadeiro western, são deslumbrantes e o contraste entre o dia e a noite é executado na perfeição e com uma naturalidade que nem parece ser criada com qualquer tecnologia, mas apenas com o olho humano. Finalmente, seria injusto não mencionar a estreia surpreendente de Hailee Steinfeld, no papel de uma rapariga com uma preserverança e coragem impressionantes, e mais uma inesquecivel interpretação de Jeff Bridges, que já é, para muitos, um dos actores mais versáteis de sempre.

There is no force more powerful than the will to live

127 Horas é uma experiência emocionante, chocante e inesquecível sobre um jovem que fica preso no deserto. Mesmo quem já conhece a história ficará fascinado com a forma como Danny Boyle a contou. Desde o primeiro ao último segundo, o filme parece ter vida própria, com uma pulsação que varia com cada cena. As reminiscências de Aron interrompem esta intensidade e suscitam um particular interesse ao servirem de escape à profunda solidão que a história nos transmite. Uma das coisas mais impressionantes é a variedade de ângulos explorados num espaço de acção tão limitado. Aí o mérito vai não só para o realizador britânico como para a cinematografia de Anthony Dod Mantle e Enrique Chediak. Outro dos grandes destaques é James Franco, que tem neste filme uma interpretação que, muito provavelmente, jamais conseguirá ultrapassar a nível de entrega, realismo, expressividade e intensidade. Forma-se assim uma fantástica adaptação que prova o enorme talento de Danny Boyle em contar histórias com as quais nos identificamos.

Hotaru no haka - Grave of the Fireflies


Um adolescente e a sua irmã mais nova tentam sobreviver no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. Para quem tiver a sorte de ver este filme, realizado por Isao Takahata, esta premissa rapidamente se transformará numa das mais belas histórias da animação japonesa, beleza essa que é ao mesmo tempo natural e poética. Faltará talvez, para os fãs de animação, a magia ao estilo a que Hayao Miyazaki nos habituou. No entanto, há algo de profundo, assombroso e devastador na simplicidade deste conto, incapaz de nos deixar indiferentes.

25th Hour - Can you change your whole life in a day?

A história de um traficante de droga no seu último dia de liberdade, antes de cumprir 7 anos de prisão. Uma jornada emotiva passada na cidade de Nova Iorque, pouco tempo depois dos ataques do 11 de Setembro. Uma profunda e perturbadora reflexão sobre as consequências das nossas escolhas. Montgomery Brogan (Edward Norton, um dos meus actores favoritos) encontra-se encurralado, a aguardar em angústia pela hora em que irá preso, sem ter outra opção senão reprimir a culpa que sente e tentar esquecer aquilo que não consegue tirar da cabeça. O mais interessante para mim foi observar a personagem principal sem juízos de valor mas simplesmente como um ser humano que, como tanta vez nos acontece, sofre com o resultado dos seus actos. Um dos pontos mais fortes do filme é a riqueza das personagens, nomeadamente os dois melhores amigos de infância de Monty, Jacob e Frank. Repleto de cenas memoráveis, com uma realização perfeita de Spike Lee. Recomendo a todos, mas especialmente aos fãs de American History X.

The Fisher King

Um conto recheado de fantasia, passado nas ruas de Nova Iorque. Jack, um arrogante locutor de rádio, após cometer um terrível erro, tenta redimir-se anos depois ao ajudar Parry, uma das vítimas dessa fatalidade. A realização de Terry Gilliam é excepcional. Fiel ao seu estilo surreal, consegue aqui criar uma perfeita combinação de imaginação e realidade, humor e tragédia. É ainda abordada a vida dos renegados da sociedade, sem-abrigos a viveram sem destino, assombrados pelo passado e a tentarem sobreviver num mundo que procura ignorar a sua existência. Robin Williams, como um desses homens, tem neste filme talvez a melhor interpretação da sua carreira. Um papel que lhe assenta na perfeição, com aquela inconfundivel capacidade humorística a vir ao de cima numa história comovente. Jeff Bridges cumpre como sempre com uma naturalidade impressionante. O argumento é perfeito, referindo-se a temas do passado de Gilliam (o Santo Graal) e dando riqueza e variedade não só às duas personagens principais mas também a secundários como Mercedes Ruehl, Amanda Plummer e o caricato Michael Jeter. Esta é talvez a obra mais mainstream de Terry Gilliam. Não deixa, no entanto, de ser um filme inesquecível. Recomendo.

The Edukators : "your days of plenty are numbered"

Um filme inspirador e de profunda reflexão sobre dois jovens berlinenses que praticam uma forma de activismo muito peculiar. Uma farpa nos príncipios do capitalismo. Escrito e realizado por Hans Weingartner. Nomeado para a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2004. Recomendo especialmente a todas as pessoas ainda na sua juventude.

Winter's Bone


Nas Montanhas Ozark em Missouri, uma rapariga procura o seu pai para garantir a sua sobrevivência e a dos seus irmãos mais novos. Uma premissa já muitas vezes vista mas que tem neste filme um desenvolvimento diferente, fruto da promissora realização de Debra Granik, que conseguiu mergulhar na cultura da região e com isso dar uma maior autenticidade à história. Um conto de preserverança e coragem, por vezes desolador mas com uma réstia de esperança, abrilhantado pela auspiciosa interpretação de Jennifer Lawrence. Uma agradável surpresa que apenas descobri quando surgiram as primeiras críticas do último festival de Sundance. Nomeado este ano para quatro Óscares, incluindo Melhor Filme e Melhor Actriz.

The Sopranos

Uma história que se tornou numa das mais celebradas e aclamadas séries nos E.U.A. Mais uma das poucas provas de que a televisão no século XXI não é toda ela desprovida de conteúdo ou inteligência. Esta inovadora série retrata a vida de um líder da máfia de New Jersey. Fantásticos enredos, personagens diversas mas sempre autênticas, desenvolvimentos impressionantes mas sempre credíveis, acompanhados com escolhas musicais perfeitas e um argumento soberbo, formam uma das mais épicas sagas americanas sobre o crime organizado. James Gandolfini ficará para sempre imortalizado pelo seu papel como Tony Soprano, umas das mais carismáticas e intrigantes personagens que eu já tive o privilégio de acompanhar. É notável como a sua tendência ameaçadora e temperamental no papel de um criminoso contrasta com a sua tendência afável e protectora como pai e amigo. O seu casamento com Carmela, pela sua natureza complexa e problemática, é um dos elementos mais interessantes. Além de Gandolfini no papel principal e apesar de todo o elenco ser fantástico (são dezenas as personagens e não sou capaz de encontrar uma interpretação falhada), queria destacar Edie Falco (Carmela Soprano), Lorraine Bracco (Dr. Jennifer Melfi) e sobretudo Nancy Marchand (Livia Soprano) numa extraordinária interpretação como uma das mais detestáveis mães que o cinema ou a televisão já apresentaram. No entanto, apesar destes fantásticos desempenhos, o maior mérito terá de ir inevitavelmente para os escritores (David Chase, o criador, é um deles) que, ao longo de tantas temporadas conseguiram manter o altíssimo nível de qualidade e originalidade. Uma série simplesmente brilhante que recomendo com grande entusiasmo.

Once Upon a Time in The West

Um belíssimo e glorioso western do lendário Sergio Leone. História épica de um enigmático homem que se une a um fora da lei para proteger uma viúva de um assassíno sem escrúpulos. Mais uma brilhante composição da autoria de Ennio Morricone. Inesquecível o confronto final a fazer lembrar o mítico embate entre Blondie, Tuco e Angel Eyes em O Bom, o Mau e o Vilão. É impossível menosprezar este género de filme depois de se ver as obras-primas de Leone.

Waking Life Official Trailer


Um homem navega por um sonho encontrando variadíssimas pessoas e discutindo os significados e os desígnios do Universo. Uma experiência única. Uma fusão mágica e invulgar de Animação e Filosofia. Realização de Richard Linklater.

Biutiful: uma tragédia moderna nas ruas de Barcelona

Trágico. Profundo. Arrebatador. Real. Fui finalmente ver este filme e fiquei surpreendido. Não era o que esperava desde que tinha visto o trailer em Setembro (tenho de parar de ver trailers meses antes do filme estrear, só me faz mal...) mas o que vi foi uma obra-prima de Alejandro González Iñarritu. Biutiful conta a história de Uxbal (Bardem), um homem que tenta sobreviver e sustentar os seus filhos numa zona de Barcelona onde a pobreza e a fuga à Lei fazem parte do dia-a-dia. Ao pressentir a morte irá tentar lutar contra o seu destino, numa extraordinária busca pela redenção. Não quero estragar o filme portanto não vou entrar em grandes descrições. Afirmo apenas que é um dos melhores dramas que eu já vi na minha vida, recheado de simbologias e momentos de uma carga emocional impressionante. A cinematografia de Rodrigo Pietro é de uma beleza única, retratando Barcelona de forma realista e mostrando uma face da cidade que muito poucos conhecerão. A música, da responsabilidade de Gustavo Santaolalla, é perfeita, acompanhando a intensidade de cada cena. No entanto, o maior aplauso vai para a majestosa interpretação de Javier Bardem, com uma total entrega a um papel extremamente difícil. O herói improvável, carregado de raiva, levado ao desespero mas sem nunca desistir da garantia de uma vida melhor para os seus filhos. Só com base neste grande papel, mais os filmes No Country For Old Men e Mar Adentro, já posso facilmente considerar Bardem um dos melhores actores da actualidade. Parabéns a Iñarritu pela sua criação e realização, por transformar o que chamamos feio no séc. XXI em algo de uma beleza épica quase indiscritível.

Interiors

Uma homenagem de Woody Allen a Ingmar Bergman. Um olhar sombrio sobre as vidas de três irmãs após a separaração dos seus pais. Nem todo o estilo de Woody Allen se perde nesta fuga às suas habituais criações (o incontornável Jazz, por exemplo, manteve-se), mas o génio cómico que exibiu ao longo da sua carreira ficou sem dúvida fora deste filme. Em momentos como os close-ups ou os intensos confrontos emocionais entre as personagens quase acreditei que era o lendário realizador sueco o homem por trás da câmara. Ressentimento, ódio e desespero eclodem em cada cena com um realismo e intensidade por vezes perturbador. A qualidade do argumento, também da autoria de Woody Allen, confere uma maior credibilidade à situação dramática vivida por esta família. A ausência de som em muitos momentos parece transportar-nos para a própria cena, como se fôssemos um familiar distante, impotente para evitar o descontrolo observado. Relativamente aos actores, destaque obrigatório para Geraldine Page (uma das melhores actrizes americanas do séc. XX) no papel de uma mulher e mãe desequilibrada, que não é capaz de suportar a ideia de viver longe do seu marido de tantos anos. Um merecido tributo a Ingmar Bergman e um honroso trabalho de Woody Allen. Nem todos os fãs destes dois cineastas gostarão deste drama. Eu gostei mas não é de longe o meu filme preferido do realizador nova-iorquino.

Glengarry Glen Ross - A Story For Everyone Who Works For A Living

Um dia passado numa agência imobiliária norte-americana onde quatro trabalhadores fazem tudo o que são capazes para não perder o seu emprego. Uma análise ao capitalismo desenfreado e à busca pelo sucesso a qualquer custo. Um elendo de luxo acrescenta qualidade a um filme que já conta com um excelente argumento de David Mamet. Jack Lemmon é impressionante num dos últimos grandes papeis da sua memorável carreira, Al Pacino é o que já se espera dos seus lendários desempenhos no séc. XX e juntamente com Alan Arkin, Ed Harris, Alec Baldwin e o brilhante Kevin Spacey formam um conjunto inesquecível de interpretações. Um filme importante e que devia ser visto por todos os que têm uma promoção e um novo carro como objectivos de vida.

The Seventh Seal

Um filme sobre a procura incessante de respostas ao significado da vida. Ingmar Bergman questiona de forma brilhante a existência de Deus. Um cavaleiro e o seu misógino escudeiro regressam das Cruzadas e encontram o seu país assolado pela Peste. O cavaleiro depara-se um dia com a própria Morte, que o desafia para um jogo de xadrez do qual depende a sua vida. Além da Morte, Antonius Block cruza-se com um humilde casal de actores e o seu bebé, que desfrutam dos simples prazeres da vida. Esta família representa o lado mais humano da história e não me parece coincidência que, num filme que tem a Religião como um dos seus temas centrais, os nomes do casal me façam lembrar os nomes Maria e José. Nunca antes vi a ideia de Morte ser abordada tão directa e estoicamente. O Sétimo Selo é assim uma história severa mas não desprovida de esperança sobre o destino que todos os seres humanos partilham e do qual não podem escapar. Impressionante a beleza da cinematografia de Gunnar Fischer, recheada de simbologia, como já seria de esperar de um filme realizado por Ingmar Bergman. Um dos maiores feitos da sétima arte.

The Conversation

Uma história intrigante sobre paranóia. Um brilhante thriller psicológico de Francis Ford Coppola, com Gene Hackman no papel principal. Harry Caul é um perito em vigilância que um dia, ao gravar a conversa de um casal, suspeita que estes poderão vir a ser assassinados. Um filme centrado numa personagem fria e ameaçadora, que não deixa por vezes de revelar a sua vulnerabilidade e humanidade, mas que não consegue viver para além do seu trabalho. Basta constatar, por exemplo, que mesmo quando toca saxofone, sozinho no seu apartamento, Harry limita-se a imitar a banda que ouve, o que demonstra a forma passiva como vive. Sombrio, complexo e notável o desempenho de Gene Hackman. No entanto, o maior mérito vai sem dúvida para a realização e argumento de Coppola, com um trabalho, digno de um mestre do cinema, que se estende desde a manipulação da audiência (que em tantos momentos vê o que Harry vê, pensa o que Harry pensa e sente o que Harry sente) até à polémica barreira entre o direito à privacidade e a responsabilidade moral. Este filme teve o "azar" de ser do mesmo ano que "O Padrinho II" e também por isso é muitas vezes esquecido ou menosprezado. Aliás, com estes dois filmes no mesmo ano, Coppola perdeu o Óscar de Melhor Filme para ele próprio (deviam ter criado nesse ano uma categoria só para este grande Senhor). Um dos melhores filmes de um dos melhores cineastas de sempre.