Six Feet Under

É inegável que nas últimas décadas a televisão tem ganho importância e nos EUA cada vez mais se está a perder a ideia, defendida durante parte do séc. XX, de que toda a televisão é inferior ao cinema ou teatro e apenas artistas de segunda escolhem uma série em vez de um filme ou uma peça. Talvez um dos maiores exemplos do desprezo pelas obras televisivas é o seguinte diálogo no clássico All About Eve (filme de 1950), entre a personagem de Marilyn Monroe e George Sanders: 
-"Tell me this, do they have auditions for television?"
-"That's, uh, all television is, my dear, nothing but auditions."
Já não se pode pensar desta forma, pelo menos enquanto nomes como Alan Ball, o escritor do brilhante argumento de "Beleza Americana" (um dos meus filmes preferidos), continuarem a criar tesouros como Sete Palmos de Terra (Six Feet Under). Esta séria mostra-nos a vida real de uma família que, ao gerir uma agência funerária, lida diariamente com a morte. Desde já, o primeiro episódio é dos mais promissores e bem desenhados que eu já vi em qualquer série. Já muitas vezes elogiei uma obra pelo seu realismo mas esta série ultrapassa quase tudo o que já vi numa sala de cinema ou em casa. A cada episódio somos confrontados com um conjunto de personagens que poderiamos, sem qualquer esforço mental, imagimar como sendo nossos vizinhos e são de facto estas personagens um dos maiores atributos desta brilhante série. Durante a maior parte do tempo que me encontrei a vê-la, senti-me como um intruso a filmar a vida de pessoas que começaram por ser estranhas e se vieram a tornar conhecidas e familiares. Não há grandes momentos de acção, efeitos especiais, etc. Acima de tudo não existe praticamente nenhum lugar-comum. Há apenas uma profunda exploração do ser humano da sociedade ocidental, sem recurso a estereótipos. Posso afirmar com certeza que muitos dos nossos preconceitos, medos, preocupações, segredos, problemas, pensamentos, reflexões, opiniões (enfim...parte das nossas vidas) irão surgir de forma natural em vários momentos ao longo desta série. Além do imenso mérito de Alan Ball com a criação, realização e argumento desta obra, seria extremamente injusto não mencionar as brilhantes interpretações, com destaque para o enorme talento e carisma de Rachel Griffiths como Brenda Chenowith, Michael C. Hall como David Fisher e Frances Conroy como Ruth Fisher. Gostaria ainda de mencionar Lauren Ambrose cuja personagem consegue ter identidade própria e ao mesmo tempo características ou problemas com os quais qualquer adolescente ou jovem adulto se consegue identificar muitas vezes (estou-me a incluir neste grupo obviamente). Finalmente, tal como em "Beleza Americana", acho que a música, pela forma quase simbiótica como se associa à história, merece ser mencionada. Vejam esta série, pelo humor negro, pela interacção dos mortos com os vivos, pelas fantásticas introspecções das personagens ou simplesmente porque se identificam com os eventos ou pessoas. Recomendo ao mundo inteiro mas quem não for capaz de sentir algo que não seja indiferença ao ver um episódio então nem se dê ao trabalho de ver mais nenhum.

Crimes and Misdemeanors

Um tesouro de Woody Allen e até hoje o meu filme preferido deste brilhante realizador. Este filme conta a história das vidas de um oftalmologista que vê a sua riqueza, estatuto e casamento ameaçados pela sua amante e de um cineasta, num casamento a morrer lentamente, que se apaixona por outra mulher. Uma profunda discussão sobre a ausência de moralidade na nossa sociedade, feita de forma subtil e sempre com momentos de comédia ao estilo inconfundível de Woody Allen (a começar na forma incrível como acaba o encontro romântico da irmã de Cliff). Relativamente à simbologia, para mim os mais óbvios e perfeitos exemplos são o facto da personagem mais religiosa do filme ficar cega e a forma como as carreiras de Lester e Cliff podem ser vistas como duas faces da mesma moeda (entenda-se carreira), duas abordagens ao trabalho e à vida completamente distintas. O outro tema fundamental debatido nesta obra é a forma como julgamos as pessoas à nossa volta com preconceitos e aí, apesar do tema ser frequentemente discutido em muitos filmes, penso que Woddy Allen foi brilhante na forma como nos levou a cometer esse mesmo erro de julgamento com muitas das personagens. Quantos espectadores, depois de considerarem Cliff um bom mentor para a sua sobrinha, não terão ficado surpreendidos quando este lhe confessou claramente a ideia do possível adultério? Quantas pessoas, após classificarem Lester de arrogante, superficial, confiante e egoísta, não terão ficado chocadas, quer com a sua nova relação, quer com a sua admissão de tensão e insegurança em relação a Cliff? É realmente surpreendente a forma como num filme de menos de duas horas conseguimos achar que conhecemos uma personagem e em tão pouco tempo a nossa visão dela é abalada. Tudo isto nos é transmitido por um excelente elenco, sustentado claro por um argumento perfeito de Woody Allen. A nível de interpretações enalteço o papel convincente de Alan Alda e especialmente o formidável desempenho de Martin Landau, que me volta a surpreender depois do seu "Drácula" em Ed Wood. Li no IMDB que Woody Allen decidiu fazer este filme depois de ter sido "demasiado simpático" com as personagens de um dos seus filmes anteriores, Ana e as Suas Irmãs, que também já referenciei neste blogue. Talvez seja por essa abordagem mais realista e sombria que gosto mais deste Crimes and Misdemeanors, que, no entanto, mantém os traços do seu carismático realizador. Recomendo muito e aviso quem vir o filme para não estranhar se se identificar com alguma personagem ou situação...

The Tree of Life Trailer 2011 HD


Não gosto do facto de os trailers saírem tão antecipadamente ao próprio filme, mas pela enorme curiosidade com que me deixou, coloquei este aqui. Estreia apenas em Maio do próximo ano...

Toy Story 3 - sou teu amigo sim!

Mais um sucesso da Pixar, cuja imaginação e extraordinária forma de contar histórias me continuam a espantar. Chega ao fim uma das obras mais marcantes da nossa infância, que ficará para sempre na nossa memória. Este terceiro filme encontra-se totalmente ao nível dos dois primeiros e ainda acrescenta profundidade às personagens e aos temas introduzidos. Aliás é preciso mencionar o excelente argumento de Michael Arndt e a realização de Lee Unkrich que nos oferecem uma história menos previsivel do que se poderia esperar, além de comovente, hilariante e por vezes assustadora, especialmente para crianças. Quanto ao elenco, as vozes são perfeitas o que mostra um importante cuidado na preparação deste filme. Continuo a colocar o Rei Leão no topo das minhas memórias de infância, mas ao contrário dessa obra-prima, Toy Story teve sucessores merecedores do seu estatuto. É impossivel depois desta experiência pensar num brinquedo de forma fria e distante. Espero chegar aos meus 100 anos e lembrar-me do Sr. Cabeça de Batata a lutar com uma pomba, do Buzz Lightyear e da sua famosa expressão "To the infinity and beyond" e do Woody a dizer "There is a snake in my boots". Nem preciso de dizer que recomendo. O mundo inteiro devia ver este filme e nunca mais se esquecer do valor e da importância de um brinquedo nas nossas vidas.

Caché

Caché é uma criação de Michael Haneke. Um filme obscuro, ousado e perturbador. Tinha já várias vezes lido sobre o menosprezo de Haneke relativamente ao cinema mainstream, às soluções superficiais para problemas complexos tantas vezes apresentadas pela sétima arte e às estruturas e ideias pré-concebidas. Com este realizador não se pode esperar obter qualquer resposta concreta. Tudo depende da nossa subjectividade e muitas das nossas conclusões poderão revelar mais sobre nós do que sobre a história que pudemos observar. Esta obra retrata a vida de um casal atormentado por uma pessoa sem identidade através de uma série de cassetes colocadas à porta de sua casa. Um dos maiores destaques vai logo de início para a forma estática como a câmara se comporta. Aliás a câmara parece neste filme ter o papel de personagem e uma personagem de extrema importância. O próprio espectador poderá por vezes sentir-se o perseguidor ou a vítima, tudo pela forma como Haneke realiza. A introdução de tantas questões sem qualquer resposta confunde o espectador que depois é chocado quando menos espera. Para além do efeito de confusão, os vários temas polítcos e sociais abordados no filme oferecem uma maior liberdade à interpretação de cada um. Uma das maiores forças deste filme é, no entanto, o seu elenco. Daniel Auteuil e Juliette Binoche formam o casal de intelectuais de classe média que vê a sua estabilidade perturbada pelo aparecimento de desenhos sinistros ou vídeos incómodos. Auteuil é perfeito como o marido controlado e educado que sofre silenciosamente. A sempre deslumbrante Binoche consegue nos seus momentos, com uma naturalidade notável, dar uma carga emocional ao filme. Há muito que admiro esta actriz pelo seu enorme talento e beleza. Aplaudo muitas das suas escolhas profissionais e considero-a uma das melhores actrizes da última década. Em relação aos secundários, Maurice Benichou é inesquecível no seu pequeno mas vital papel. Lester Makedonsky e Walid Afkir têm também óptimos desempenhos apesar da sua juventude. Acho que Haneke sacrificou algumas coisas, como a narrativa, para obter o efeito desejado, mas gostei e achai o filme extremamente interessante. Não é nada a que eu esteja habituado por isso foi uma agradável novidade. Recomendo mas aviso que muitos não gostarão.











Being John Malkovich - a bizarre and unique experience

Craig é um titereiro (aqueles homens que controlam as marionetas) profissional que um dia descobre, no seu recente e enigmático emprego no piso "7 e meio" de um grande edifício, um portal para a cabeça de  John Malkovich, o famoso actor. Este filme é tão único e estranho que o melhor é não falar muito sobre o seu conteúdo, para não estragar a experiência a quem ainda não o viu. Apesar das excelentes interpretações, incluindo extraordináriamente até o desempenho de uma irreconhecível Cameron Diaz, é o argumento de Charlie Kaufman, o conceituado escritor de Adaptation e Eternal Sunshine of The Spotless Mind, e a realização de Spike Jonze - na sua estreia como realizador -  que mais se destacam.

Scarface - A Força do Poder

Visto por uns como um filme de culto sobre gansters e por outros como um extraordinário drama. Não gosto de dar rótulos a um filme mas concordo sem dúvida mais com a segunda classificação do que com a primeira. Uma obra absolutamente excessiva em tudo o que a constitui, mas se percebermos que é esse mesmo o objectivo mais facilmente gostamos deste filme. Eu gostei e considero-o obrigatório para qualquer fã de Brian de Palma ou Al Pacino.

Underground - simply a work of art!

Já passou mais de um ano desde que um grande amigo meu me chamou inculto por desconhecer os filmes de Emir Kusturica. Como sou orgulhoso, não gostei que me chamassem inculto e assim que pude tratei de ver um filme desse cineasta. Esse amigo, também cinéfilo, aconselhou-me, muito sabiamente diga-se de passagem, a ver o Zivot je Cudo (Life is a Miracle). Fiquei abismado com a forma pura como o filme se desenrolou e ainda hoje o considero um dos meus filmes preferidos. Uma obra calorosa feita por pessoas para pessoas (expressão muito bem usada por esse meu amigo), uma viagem intemporal pelas vidas de pessoas aparentemente comuns mas que se revelam ou vivem coisas extraordinárias. Sem pretensões, sem grandes perspectivas comerciais, sem grandes estrelas, sem um grande orçamento, apenas uma experiência sem igual que dificilmente saírá da cabeça do espectador. Não deve no entanto passar a imagem de que estes filmes se limitam a entreter sem qualquer conteúdo, antes pelo contrário. Li uma vez, já não me lembro onde, que "...Kusturica não faz um filme de cada vez, faz 10...". Morte, amor, religião, política, patriotismo, laços de família, traição, entre muitos outros, surgem ao longo destes filmes como poderão observar e/ou sentir. Vi até agora três filmes da autoria deste grande Senhor: "A Vida é um Milagre", "Gato Preto Gato Branco" e muito recentemente "Era uma Vez um País" (Underground).
Este último é também uma verdadeira obra-prima e tem sem dúvida muitos dos traços de Kusturica. Há um realismo perfeito, o predomínio da acção ao invés da descrição, o mais importante na interpretação é a emoção/sensação transmitida e não o aspecto técnico, o destaque é da cena como um todo e não de um actor em particular. Outra coisa que adorei foi a total liberdade com que os actores desempenhavam o seu papel. Em certos momentos certa personagem parecia quase sobrehumana, tal era a sua vivacidade, enquanto que noutros momentos, de forma inesperada e brilhante, os actores saíam do seu papel e gozavam consigo próprios. Todos os actores aliás são apenas importantes quando se considera todo o elenco, que nos filmes de Kusturica é uma verdadeira força da Natureza, transmitindo um turbilhão de sensações ao longo do filme. Tantas personagens em interacção constante, a comer, a beber, a cantar, a dançar, a tocar, a amar, a mentir, a trair, a matar...transmitem essa vivacidade única que muito dificilmente será encontrada em obras sem a participação deste realizador sérvio. Descobri após ver o filme que este sentiu muitas dificuldades e foi muito criticado quando esteve em exibição nos cinemas, devido às suas reflexões políticas. Tenho pena que isso aconteça porque essas reflexões servem apenas para provar o quanto Emir Kusturica pensou, investiu e trabalhou nesta criação que é sem dúvida das mais brilhantes que já vi. 
Vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 1995. Recomendo infinitamente, mas sei que nem todos gostarão deste filme...

Ed Wood - A True Hollywood Story

Ed Wood conta a história das dificuldades de um estranho realizador sem qualquer talento mas com grande força de vontade para se tornar num dos grandes nomes de Hollywood. Ninguém  mais que Tim Burton poderia desta forma criar um filme excêntrico e hilariante baseado na vida daquele que foi considerado o pior realizador de todos os tempos. Uma história sem igual composta pelas filmagens de várias películas recheadas de péssimos argumentos ("Future events such as these will affect you in the future..."), péssima narração, péssimas interpretações, péssima cinematografia (da autoria de um daltónico), mas acima de tudo uma péssima realização por parte de Edward D. Wood Jr., representado na perfeição por Johnny Depp. Continua a impressionar-me que a cada filme que Tim Burton faz com este actor corresponde uma interpretação sem precedentes e impossível de copiar. Relativamente aos secundários, destaque para Martin Landau, formidável na pele de Bela Lugosi, o homem que imortalizou Drácula, papel que o tornou mundialmente famoso mas que ironicamente se revelou a maldição da sua carreira. Esta é uma viagem pelos estúdios da região que foi outrora o centro mundial da sétima arte mas que se perdeu pela ideia de vender a qualquer custo. É curioso mas muito provavelmente Ed Wood não seria na actualidade classificado como o pior realizador da História, tendo em conta que as suas ideias não são mais absurdas que muitas daquelas com as quais nos vemos confrontados...

Bonnie and Clyde

Um clássico do cinema americano. Uma das primeiras e melhores demonstrações da obessão por violência na sociedade americana. Bonnie and Clyde são imortalizados por Faye Dunaway e Warren Beatty num filme intencionalmente excessivo na sua brutalidade mas que nunca perde o seu fio condutor. Incrível a forma como, após todos os crimes testemunhados pelo espectador, este não consegue deixar de simpatizar por vezes com os seus perpetradores. Admito que dei por mim a lamentar o destino destas personagens em certos momentos, o que denota a forma inteligente como a história é realizada. A melhor interpretação que vi até hoje de Beatty, aqui no papel de um impotente rapaz do campo que descarrega a sua frustração sexual através de uma pistola, mas que raramente ou nunca é odiado pela audiência devido ao seu aspecto benigno e ao seu sorriso pateta. Dunaway é perfeita como a beleza sulista que despreza a vida que leva e vê em Clyde Barrow uma oportunidade de fugir de tudo o que a rodeia e de desfrutar com imenso prazer de qualquer momento de adrenalina em que possui uma arma nas mãos. Mesmo após perceber que não terá o seu desejo sexual satisfeito por este homem, ela não é capaz de abandonar a única pessoa que alguma vez a compreendeu e a fez sentir verdadeiramente importante e, acima de tudo, viva. Esta obra permanece na História da sétima arte, nos Estados Unidos, como um dos maiores triunfos na manipulação da audiência. Muito do mérito tem de e deve ser atribuído à realização com enorme mestria de Arthur Penn, cineasta recentemente falecido. Este é, sem dúvida, o maior feito da sua carreira.

BLACK SWAN - Official HD trailer


O novo e intrigante projecto de Darren Aronofsky, realizador aclamado pelos filmes Pi, Requiem for a Dream e The Wrestler. Estreia em Portugal a 24 de Fevereiro de 2011. Não é justo esperar tanto tempo, após a estreia original, para poder ver o filme numa sala de cinema...

Donnie Darko

Original. Surreal. Intrigante. Profundo. Vanguardista. Genial. Realizado por Richard Kelly, este filme conta a história de um adolescente problemático que é atormentado por visões de um caricato coelho que o convence a cometer uma série de crimes, após ter escapado de um bizarro acidente. Uma esplêndida criação que, sem nunca ser condescendente, estimula a mente de qualquer espectador, dando-nos a liberdade de chegarmos às nossas conclusões em vez de simplesmente nos entregar as respostas. Somos apresentados com um cenário que reuniria todas as condições para se revelar um monte de clichés, desde o adolescente problemático, aos problemas familiares, aos rufias da escola, à rapariga gozada com baixa auto-estima, à professora liberal num sistema de ensino ridículamente conservador, etc. Em vez disso, com uma abordagem única, o filme apresenta-nos um retrato incrivelmente autêntico de uma família e de uma sociedade e, à medida que a história se desenvolve, nunca cai na armadilha do "óbvio". Talvez o melhor exemplo disso é a forma como, apesar de todas as questões científicas ou filosóficas que este filme possa gerar, não deixa de se destacar pela forma humana como aborda os seus temas. Um elenco perfeito liderado por uma magnífica interpretação do na altura desconhecido Jake Gyllenhaal. Este é sem dúvida um dos grandes filmes de culto do século XXI. Não podia recomendar mais vivamente se tentasse!

Parabéns a Ennio Morricone

É hoje o dia do seu 82º aniversário. Um dos maiores compositores italianos do séc. XX, formou com o lendário realizador Sergio Leone uma das grandes parcerias realizador/compositor da sétima arte. Uma dessas parcerias e um dos maiores feitos deste compositor é no filme Era Uma Vez na América:

"How tragic that man can never realize how beautiful life is until he is face to face with death."

Ikiru é uma obra-prima de Akira Kurosawa, um dos mestres da sétima arte. Um filme singular do realizador que nos habituou ao seu estilo épico quase sempre acompanhado das vibrantes interpretações de Toshirô Mifune que não teve qualquer participação neste filme. Esta é a simples história de Kanji Watanabe (Takashi Shimura), um burocrata que, após décadas preso à apatia e ao vazio do seu trabalho, descobre que estará morto em menos de um ano. É neste momento que o protagonista descobre que na verdade esteve morto todo este tempo e, paradoxalmente, só agora com a sua morte a aproximar-se é que será capaz de viver. Um trabalho sublime em todos os aspectos de Kurosawa que sabia como ninguém penetrar na natureza humana através da sua arte. Impossível não referir as enormes contribuições da espantosa cinematografia de Asakazu Nakai e do brilhante e comovente desempenho de Shimura, um dos mais dotados actores que o Japão já teve o privilégio de apresentar. A maior prova do seu talento é a forma como neste filme deixou transparecer timidez, fragilidade, tristeza e desespero e dois anos depois interpretou de forma igualmente convincente o poderoso e lendário samurai Shimada em "Shichinin no Samurai" (Sete Samurais). Uma verdadeira lição de vida, Ikiru é uma pérola que deve ser vista por todos os amantes do cinema.

Into the Wild

Em 1990 Christopher McCandless (na imagem acima) abandona a sua vida citadina e deixa para trás tudo o que o define como um membro da sociedade, embarcando durante dois anos numa viagem épica pela Natureza. Baseado no livro de Jon Krakauer, este filme relata a história verídica de um homem que, incompreendido pela sua própria espécie, seguiu a sua ideologia e desprezou toda a ordem estabelecida e tudo o que ela impõe. Uma incrível aventura de uma beleza indescritível e inexplicável. Realização de Sean Penn, que prova com este filme que o seu talento se extende além da representação, apoiada por uma surpreendente interpretação de Emile Hirsch. Seria quase imperdoável não mencionar ainda as músicas da autoria de Eddie Vedder. Recomendado a qualquer ser humano, conformado ou não com a vida que leva.

Hannah and Her Sisters

Uma comédia clássica. Um dos filmes que melhor define Woody Allen, começando pelas interpretações que compõem um excelente elenco, passando pelo incontornável Jazz, pela cidade de Nova Iorque como pano de fundo e terminando obviamente num argumento que só ele poderia ter escrito. Um filme extremamente divertido e inteligente, vencedor de 3 Óscares da Academia: Melhor Argumento Original (Woody Allen, pois claro), Melhor Actriz Secundária (Dianne Wiest) e Melhor Actor Secundário (Michael Caine).

The Dude Abides!

Após um mal entendido, Jeffrey "The Dude" Lebowski vai exigir a um milionário com o mesmo nome uma indemnização pelo seu tapete manchado, com resultados inesperados a advirem dessa exigência. 
The Big Lebowski é uma das comédias mais originais de sempre. Um filme extremamente inteligente, sem nunca ser óbvio. Escrito e realizado pelos sempre inéditos irmãos Coen, com uma maravilhosa banda sonora, personagens brilhantemente escritas e grandes interpretações a demonstrarem a riqueza dessas personagens. Jeff Bridges é um dos actores mais subvalorizados da sua geração. A facilidade com que se transforma denota o seu imenso talento. Neste filme oferece-nos uma memorável interpretação. A sua atitude desleixada, o seu sorriso pateta e os seus momentos de "moca" jamais serão esquecidos. O outro destaque deste filme vai sem dúvida para John Goodman, com um inesquecível misto de espontaneidade e fúria que oferece ao espectador alguns dos melhores momentos. Esta é sem dúvida uma das proezas do cinema moderno, caracterizada por um sentido de humor raro nos filmes das últimas duas décadas. Recomendo vivamente!

Sonata de Outono

Um clássico de Ingmar Bergman, no qual demonstra o seu imenso talento na exploração da realidade. Aqui mergulha numa análise à relação disfuncional entre mãe e filha. Com um estilo único e inconfundível esta lenda do cinema escrutina os instintos básicos do ser humano e o seu relacionamento com outros seres da sua espécie. A penetração no cerne das questões abordadas nos seus filmes é tão profunda que Bergman consegue chocar mas ao mesmo tempo envolver emocionalmente a sua audiência. Outro motivo para a eficácia deste filme são as genuínas interpretações de duas brilhantes actrizes, Ingrid Bergman e Liv Ullmann. A naturalidade com a qual contracenam é notável e deixa saudades numa época em que cada vez menos actores conseguem pôr de parte as suas ambições e encarnar de forma tão autêntica as suas personagens. Stanley Kubrick disse uma vez que "Tudo o que pode ser escrito ou pensado, pode ser filmado". Em Höstsonaten (Sonata de Outono), Ingmar Bergman demonstra-o de forma soberba. Este filme permanece na História como um tributo a um dos melhores realizadores de todos os tempos, ao grande talento de Liv Ullmann e a Ingrid Bergman, uma das maiores estrelas de sempre do cinema mundial.

Sleuth - Autópsia de um Crime

Um thriller original e extremamente bem executado com enormes interpretações do lendário Laurence Olivier e de Michael Caine, além de alguns dos secundários, em especial o detective interpretado por Alec Cawthorne. É inevitável referir ainda a música de Cole Porter, o engenhoso argumento de Anthony Shaffer e a excelente passagem desta obra do teatro para o grande ecrã, mérito do veterano realizador Joseph L. Mankiewicz. Aconselho vivamente qualquer pessoa que queira ver o filme a não fazer antes nenhuma pesquisa relacionada com o mesmo...

"We no longer live in a world of nations and ideologies..."

Network é uma perfeita exploração da decadência das televisões e da sociedade ocidental. Talvez o primeiro filme nos E.U.A. a lidar com o conceito de "fim da democracia e desumanização nas sociedades" e provavelmente o melhor do seu género. Numa época actual em que a mediocridade reina nos meios de comunicação (e não só), este filme tem uma importância ainda maior e devia ser visto por todos, mas especialmente por aqueles que passam horas agarrados ao ecrã a ver programas de uma banalidade excruciante...
Após observar a sua incrível realização, esta tornou-se na minha película favorita de Sidney Lumet, à frente de 12 Angry Men e Dog Day Afternoon, com um dos melhores elencos que Hollywood ja viu, composto por marcantes interpretações de Peter Finch, William Holden, Faye Dunaway, Ned Beatty e o incrível camaleão Robert Duvall. No entanto, para mim o que mais se destaca é o delicioso argumento de Paddy Chayefsky, com alguns dos melhores diálogos que já vi e com cenas inesqueciveis como o confronto entre Max Schumacher e a sua mulher, mais memoráveis ainda o "adeus" de Max Schumacher a Diana Christensen e o épico monólogo de Arthur Jensen sobre o fim das Nações e a ascensão das Corporações. Um filme pouco convencional, mesmo ao estilo de Sidney Lumet, que recomendo especialmente a quem ainda vê a televisão como a sua principal forma de entertenimento...

You are cordially invited to George and Martha's for an evening of fun and games

"Quem tem medo de Virginia Woolf?" é um clássico indiscutível do cinema americano. Um filme que retrata um casal envelhecido que, com a ajuda do álcool, manipula um casal mais novo para infligir o máximo de dor emocional (e por vezes física) possível a todos os que os rodeiam e um ao outro. Nunca antes um casamento e as suas falhas foram tão bem dissecados. Da primeira à última cena somos confrontados com duas pessoas que, apesar de se amarem e dependerem uma da outra (às vezes sem disso se aperceberem), canalizam todos os seus ressentimentos e mágoas em palavras que provocam em ambos as mais profundas feridas. George e Martha levam-se à exaustão emocial mas nunca se conseguem afastar um do outro. Com a excelente realização de Mike Nichols (na sua estreia como realizador de cinema), as assombrosas interpretações e o genial argumento de Ernest Lehman, com todas as palavras carregadas de malícia, sarcasmo e amargura, o próprio espectador sente por vezes essa exaustão emocional, apesar de nunca ser capaz de tirar os olhos do ecrã. Esta é sem dúvida a melhor interpretação da carreira de Elizabeth Taylor, num dos melhores desempenhos na história do cinema. A sua transformação é notável e toda a complexidade da personagem é representada na perfeição, do sadismo à ternura, da condescendência opressiva à extenuante vulnerabilidade. Richard Burton é magnífico como o envelhecido professor com uma carreira falhada, cuja brandura inicial depressa progride para uma raiva de uma volatilidade impressionante. Também os dois "secundários", George Segal e Sandy Dennis, têm actuações notáveis. Um filme corajoso e ousado que venceu 5 Óscares da Academia e espantou a sua audiência que até aí estava habituada a protótipos de casamentos quase perfeitos em que os obstáculos são magicamente ultrapassados no pouco tempo que o filme retrata, quase sempre com a idílica ideia final "Viveram felizes para sempre".

True Grit Trailer



O novo filme dos irmãos Coen, com um elenco constituido por Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Brolin e Hailee Steinfeld nos papeis principais. Estreia esperada em Portugal a 27 de Janeiro de 2011.

We are all connected

Uma obra original de Paul Thomas Anderson, "Magnólia" é um dos filmes mais poderosos dos últimos 20 anos que eu já vi serem criados pelo cinema americano (ou "Indústria" como eles infelizmente lhe gostam de chamar...). Uma épica história de várias personagens interligadas na busca de amor, perdão e sentido na vida, este filme deve ser visto, estudado e apreciado. Apesar da sua longa duração (mais de 3 horas) dificilmente se encontrará uma cena sem significado, que pudesse ser cortada sem esta obra perder algo. Uma das melhores explorações do melodramático que eu ja tive o privilégio de observar, este filme está também carregado de simbologia, a começar no título. Dois exemplos disso são os seguintes:
  • Há uma lenda que diz que a casca da Magnólia pode curar o cancro;
  • A palavra "magnólia" tem 8 letras, das quais duas são "a's", a segunda e a oitava letra, o que representa uma estranha coincidência com os números 8 e 2, presentes em muitas cenas do filme como referência ao Êxodo 8:2: "Deixa partir o meu povo para que me sirva. Se te recusares a deixá-lo partir, eis que eu vou flagelar todo o teu território com rãs".
Se virem o filme irão comprovar estes exemplos e poderão encontrar mais. Com um dos melhores elencos na história do cinema moderno, este é um dos melhores exemplos do que um cineasta americano pode criar se conseguir escapar ao capitalismo das grandes produtoras de Hollywood. Nomeado para três Óscares da Academia, Melhor Actor Secundário (Tom Cruise), Melhor Canção Original ("Save me" de Aimee Mann) e Melhor Argumento Original (Paul Thomas Anderson).
Recomendo vivamente!

MOTELx 2010

Para mim foi por completo uma nova experiência. Nunca tinha vindo a este festival na minha vida e nunca tinha visto no cinema um filme de zombies (Survival of the Dead) ou outros filmes alternativos, uns chocantes (Red White & Blue e uma curta da qual nunca mais me esquecerei...) outros hilariantes (Mutant Girls Squad).
Em relação a Survival of the Dead, talvez por não ter quaisquer expectativas gostei do filme, da forma satírica como seguiu o modelo western com todos os seus clichés e também como abordou as três personagens principais (Crocket, Muldoon e O'Flynn) a fazer lembrar o mítico The Good, The Bad and The Ugly. Apesar dos clichés há várias cenas e diálogos surpreendentes e bastante cómicos. Para mim dois dos melhores momentos foram um zombie a ser morto com a espuma de um extintor e uma personagem depois de levar um tiro dizer de forma muito convincente "Estou são como um pêro!"
Não vou falar muito de Red White & Blue. Apenas referir que é uma interessante análise ao ser humano e à forma como nos julgamos uns aos outros em sociedade. A maior parte do filme tem um ritmo lento mas com paciência e algum estômago para certas cenas, acho que vale a pena vê-lo.
Finalmente, o meu filme preferido do festival:

Mutant Girls Squad
Depois de tantas vezes me terem falado de filmes cómicos de "gore", a maior parte deles sem qualquer mensagem, conteúdo ou profundidade, tinha curiosidade em ver o que eu achava de tal tipo de filme. Decidi então ver este e o resultado foi um dos filmes mais hilariantes que já vi na minha vida. Não sei se foi do meu estado de espírito ou do cansaço mental que tinha tido nesse dia, este filme foi o melhor que eu podia ter escolhido. Sem qualquer pretensões de grande filme, este acabou provavelmente por ser aquele em que eu saí do cinema com a maior dor de barriga. Ri-me mais que os amigos com quem fui porque eles, ao contrário de mim, já tinham visto filmes do género. Foi surpreendente, aleatório, imprevisível, muitas vezes indescritível mas acima de tudo hilariante do primeiro ao último minuto. Nunca mais vou olhar da mesma forma, por exemplo, para uma baguete ou uma moto-serra...
Fico com a certeza de que, visto de vez em quando, este tipo de filmes pode ser aquilo que muita gente precisa: duas horas de riso espontâneo sem qualquer esforço mental. Pelo menos para mim este foi o primeiro mas de certeza que não foi o último...

Kramer vs. Kramer

Este aclamado drama de 1979, realizado por Robert Benton, conta a história de Ted, um homem que, quando confrontado com o fim do seu casamento, se vê forçado a ajustar a sua vida, agora a sós com o seu filho Billy de 8 anos. Um bom filme com excelentes interpretações dos lendários Dustin Hoffman e Meryl Streep. Vencedor de 5 Óscares da Academia: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor, Melhor Actriz Secundária e Melhor Argumento Adaptado.

Biutiful Trailer



O novo filme de Alejandro González Iñárritu, com Javier Bardem no papel principal. Estreia esperada em Portugal apenas em Fevereiro :(, fico pacientemente à espera...

Beginning...

tinha de ter um blog para uma cadeira ( Sistemas de Informação) da minha faculdade...a sua manutenção e actualização semanal valem 2 valores da nota final portanto não era algo facultativo...podíamos também optar por usar como blog o nosso facebook, twitter,etc.mas entre uma rede social qualquer e algo original a escolha foi bastante fácil (fãs do facebook não se ofendam por favor :p), especialmente tendo em conta o fascínio que sempre tive pela sétima arte. Sei que não tenho de justificar o nome que dei ao blog mas queria referir apenas que nada tem a ver com o meu nome!
Em relação aos filmes referidos neste blog prometo apenas que se surgirem filmes ocos (aqueles que podem provocar danos cerebrais irremediáveis) é para serem gozados por mim e mais quem quiser :)

Saudações a qualquer visitante, especialmente se for cinéfilo!